sexta-feira, 24 de abril de 2015

CANOA ÍNDIA

Aquela minha canoa índia, torrada,
Com círculos negros e ziguezagues púrpura,
Num tronco de casco, adornada!
As faces riscadas, verdes e rubras,
Rasgavam ondas, numa raiva afoita,
Era destemida, a minha galera, nas águas turvas.
Bravuras, desejos, ímpetos que o mar açoita,
A ondulação furiosa e revolta, a minha canoa rompia,
E baixava, súbita, respeitosa e engolida,
Em júbilo, de novo, num movimento de impulso, subia!
Na proa, espelhavam as armas do astro-rei, cravado,
À popa, despregadas gargalhadas comandavam o sentido,
E a minha barca chanfrada, envolta pela maresia de aromas de névoa quente,
Num gesto incontido, incómodo, à sétima, na vaga suspensa, aproava saliente,
À crista!
Num bolero duplo, amarava,
E deslizava bamba, à corda, equilibrista,
Vogava leve e salina,
Velejava, indígena, aborígena, à bolina,
Na água agitada, verde azulada e profunda,
Afundava solta, libertina, vagabunda.


Maria Clara C’Ovo

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