quarta-feira, 1 de abril de 2015

PORTUGUESAS CALÇADAS

I
No chão da minha rua,
Há pedras diagonais,
Arte minha, arte tua,
Celestes calçadas,
Trilhadas,
Monumentais!

II
Poesia completa,
De pedra branca e preta,
Cubos irregulares,
Que voam pelos ares,
Poliedros transgressores,
Raivas paralelepípedas,
Fugas, dores, prismas!
Calceteiras rimas.
Espaço de mulheres vividas.
Vidas curtidas, tecidas,
De caminhos esculpidos à mão,
Manuscritos do coração.
Mexe-te,
Desliza o sapato,
No Belo anonimato.

III
Ruelas calçadas,
De figuras descalças,
Desfiguradas!
Praças a maço e cinzel,
Esteira dos sem hotel,
Deslocações de peões,
Muitas figuras reais,
Azáfamas, agitações.
Calcário, faz obséquio!
Um museu a céu aberto!
Plásticos abrigos, mendigos,
Remediados, figurões afamados,
Circulai... Passai!
Em recreio,
Sem freio,
No palco da igualdade.
Espezinhar’te?
É a nossa parte,
De figurantes e comediantes,
Do fadário diário da queixa, 
Recita! 
Cem tostões?
Deixa!
Debaixo do pés, vês?
Uma espécie de Xadrez!

Maria Clara C'Ovo


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